quarta-feira, 22 de junho de 2011


Uma história de Triunfo

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 Uma história de Triunfo
Nelson Triunfo dançando na 24 de Maio                 Foto: Gilberto Yoshinaga
 

Difícil é não prestar atenção nesta figura: estilo Black Power, roupas coloridas e talento multicultural.  Assim é Nelson Triunfo, dançarino, cantor e compositor, é também considerado o pai do break no Brasil. Seja pela cabeleira densa, por seu envolvimento em questões sociais, ou pela fama nas pistas, é impossível que Nelson Triunfo passe despercebido por onde chega. Nordestino com pose de James Brown é bem conhecido no meio artístico.  Nascido na pequena cidade de Triunfo (PE), o garoto que cresceu sob influência do maracatu e do frevo já esteve presente em diversos programas de televisão.  Foi entrevistado por Jô Soares, esteve com Xuxa e participou recentemente do reality show da TV Record Troca de Família.
Precursor do movimento hip hop no Brasil, Nelson terá sua biografia lançada em outubro de 2011 pelo jornalista Gilberto Yoshinaga. Um dos objetivos da obra é demonstrar que a cultura black vai além das artes, é um estilo de vida.
Em entrevista ao “Pergunte a Quem Conhece”, Nelson Triunfo cita projetos sociais que utilizam a música e a dança para gerar oportunidade de desenvolvimento a jovens da periferia, lembrando histórias de garotos considerados “problemáticos”, mas que tiveram suas vidas transformadas ao conhecer o hip hop. “Um exemplo é o Guinho, que era uma criança muito discriminada na comunidade devido a sua introspecção”, conta Triunfo.  “Hoje, ele reside na Finlândia e é considerado um dos melhores representantes do break por lá.”
Foi de olho em histórias como essa que o jornalista Gilberto Yoshinaga conseguiu firmar parceria com o Governo Federal e com a Seppir (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial) para publicar uma tiragem gratuita do livro, destinada a bibliotecas públicas e ONGs.  “A intenção não é lucrar, e sim fazer com que essa história chegue ao maior número de pessoas”, diz Gilberto.

Exemplo de sucesso
 Thaide     Foto: Arquivo Pessoal


Não foi apenas nas comunidades que Nelson Triunfo incentivou vários jovens. Por meio de eventos realizados na esquina da rua 24 de Maio, ele foi inspiração para grandes nomes da cultura hip hop. Nelson fala com carinho ao relembrar os primeiros passos de um dos mais conhecidos rappers do Brasil, Altair Gonçalves, o Thaíde: “lembro-me dele rapazinho e magrelo, naquela época ele ainda nem cantava, mas já era um dos melhores dançarinos da Back Spin Crew (famoso grupo de dança formado em 1985, em atividade até hoje)”.
Thaíde também se lembra daqueles tempos: ”todas essas lembranças são ótimas...”.  O rapper, também repórter do programa A liga, da tevê Bandeirantes, revela que já tinha admiração por Triunfo antes de conhecê-lo. “Sou fã do Nelson desde o momento que eu vi a imagem dele. Quando criança, eu ia assistir aos desfiles das escolas de samba de São Paulo e eu já ficava fascinado com o visual puramente black power do grande Nelson Triunfo na Vai-Vai. Eu nem imaginava que numa sexta-feira, nos anos 80, eu ir ia encontrá-lo no metrô S anta Cecília indo pro mesmo lugar que eu”, recorda.
Ambos iam para o Clube da Cidade, uma casa de shows, ponto de encontro para pessoas de todos os cantos de São Paulo que tinham algo em comum, a paixão pela música black. Foi lá que Triunfo conquistou de vez a admiração de Thaíde. “Assim que chegamos ao Clube da cidade, o Nelson já foi entrando e os seguranças abriram caminho pra ele passar ‘sem tomar geral ’. Ninguém encostou a mão nele. Ele liberou a minha entrada, mas quando eu fui passar, o segurança me parou, deu uma ‘geral ’ violenta e aí eu pensei: “um dia quero ser igual ao Nelson, respeitar e ser respeitado em qualquer lugar”, conta.
Foi inspirado na força de seus ídolos que o rapper tornou-se um dos pilares do hip hop nacional.  Ao longo de sua carreira, Thaíde soma oito álbuns gravados e um livro publicado, o Pergunte a Quem Conhece.  Ele ainda participou do seriado Antonia, da Rede Globo, interpretando o personagem Marcelo Diamante, e apresentou o programa Manos e Minas, em 2009, exibido pela TV Cultura. Atualmente, trabalha ao lado de Rafinha Bastos, Débora Vilalba e Sophia Reis, em A liga.
Através da cultura hip hop, Thaíde conseguiu conquistar o que sonhou no dia em que conheceu Triunfo, sua inspiração: “Daquele dia em diante eu tive o Nelson como amigo pessoal, ídolo do movimento Black brasileiro e meu ídolo também”.

Casa do Hip Hop

Engana-se quem imagina que o hip hop é só um ritmo musical.  O movimento é uma expressão cultural nascida nas ruas de Nova York, numa época em que os direitos humanos e as relações sociais dos negros ganharam projeção nas vozes de líderes como Martin Luter King e Malcolm X, defensores dos direitos civis afro descendentes nos Estados Unidos, na década de 1960.
O fundador do movimento foi Afrika Bambaataa, um ex-integrante de uma das gangues mais temidas de Nova York, a Black Spades, (Espadas Negras).  Bambaataa também foi o fundador da Zulu Nation, ONG criada para difundir os valores do hip hop no mundo. Aqui no Brasil, a Zulu Nation tem uma filial desde 1994, reinaugurada pelo próprio Afrika Bambaataa, em 2002. Entre vários projetos, a ONG mantém parceria com a Casa do Hip Hop, que disponibiliza oficinas de artes variadas para crianças e jovens carentes. Atualmente, a ONG tem como presidente de honra, King Nino Brown, DJ, dançarino e referencia internacional quando o assunto é Hip Hop.
Em visita ao espaço, entrevistamos Tota, talento influente entre os grafiteiros desde 1997.  O brasileiro que despertou atenção até dos britânicos, já foi entrevistado pela BBC de Londres e reclama ao falar sobre a abordagem de parte da imprensa do Brasil quando o assunto é hip hop.  “A maioria das pessoas que me entrevistam não querem saber como desenvolvo meu trabalho, e sim do meu passado pobre. Não acho isso legal. A verdade é que poucas pessoas têm a oportunidade de fazer algo por si e pela sua comunidade e quando isso acontece, deveríamos priorizar a ação e não explorar só o lado triste da coisa” critica.
Thaíde também apresenta sua opinião, segundo o rapper, “o hip hop é responsável pela auto-estima valorizada, numa época que não existia muita esperança para os jovens das favelas de todo Brasil. Acredito que nunca uma cultura musical valorizou tanto a sua etnia e, incentivou de maneira direta a evolução do ser humano como a música rap e a cultura hip hop”, defende Thaíde.   “Só gostaria que lembrassem dessas coisas também”, Finaliza.

1 comentários:

Aline Peralta disse...

Mto legal amiga! Parabéns! =D

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